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Eu

Eu represento um obstáculo.
Um obstáculo para todos os meus mais profundos sonhos, sufocados por pequenos picos de entusiasmo e desejos temporários.

Eu sou fraca.
Eu me rendo à impulsos primitivos e me permito cair em poços profundos de procrastinação. Às vezes, eu não luto. Às vezes, eu não quero lutar. 

Por algum motivo, eu sou estranha para outras pessoas.
Elas apontam para mim e dizem que a minha cabeça funciona de um modo esquisito, que meus pensamentos sobre a vida são doidos, que minhas dúvidas a respeito da sociedade são esquisitas, que o jeito como enxergo o mundo é maluco. Essas mesmas pessoas costumam dizer que minha inteligência é acima da média.

Eu não sou inteligente.
É verdade que meu cérebro funciona de uma maneira incomum, e eu faço associações com coisas e fatos que a maioria das pessoas não conhece. Eu gosto de conhecer coisas novas e fico empolgada facilmente com novas descobertas. Tenho uma certa paixão pelas palavras e encontrei nelas um refúgio para o excesso de pensamentos. Mas nada disso me faz inteligente.

Gosto de pensar que sou só uma partícula.
Se estou aqui ou não, se erro ou acerto, se luto ou desisto, só irá fazer diferença para mim. O resto desaparece. O restante do mundo não liga para mim, e os poucos que ligam irão desaparecer tão rápido quanto um grão de areia soprado pelo vento. Isso me dá liberdade de não me prender a nada nem a ninguém de forma definitiva, e a possibilidade de aproveitar cada sopro, cada momento. 

Eu sou uma partícula livre. Com todas as limitações, mas livre.

Pequeno ensaio sobre a morte

A ansiedade vem subindo e cravando suas garras em mim enquanto abro esse texto para digitar.




A morte é um ponto final.
Na minha opinião, um ponto final desnecessário e, muitas vezes, no lugar errado e na hora errada.

A cultura da morte

É interessante notar que a maioria das culturas, em seus ritos funerários, considera-se que exista algo após a morte. Por exemplo, no México acredita-se que os falecidos vêm a terra visitar os parentes no Día de Muertos, o que afeta diretamente o comportamento das pessoas nessa data: é um dia de festa e comemoração, onde usualmente se preparam, em cada casa, as comidas e bebidas favoritas da pessoa que se foi.

Alguns ritos funerários também se preocupam bastante com a saúde mental dos parentes e amigos que ficam. É o exemplo do judaísmo, onde, diante da morte, há a reafirmação da vida. Os judeus também permanecem em casa para viverem o luto em privacidade e silêncio. Em alguns momentos desse processo há até mesmo a recusa em receber qualquer visita.

Essa crença coletiva de que existe algo nos esperando após morrermos causa uma curiosa semelhança em grande parte das culturas analisadas: os ritos funerários são rituais de passagem, representando uma suposta travessia da pessoa que partiu para o outro lado. Aparentemente, parece ser importante que as pessoas inseridas culturalmente na sociedade acreditem que exista essa travessia, para que haja melhor entendimento e aceitação da morte. 

Se é inevitável, por que é difícil aceitar?

A única certeza da vida é a morte.

Seres humanos deveriam ser, supostamente, seres racionais. Mas, na maior parte do tempo, agimos baseados em nossas emoções e instintos. A morte é algo que evitamos, por nossa incapacidade em racionalizá-la e por naturalmente evitarmos atitudes de auto-destruição. Também evitamos todo e qualquer tipo de perda: perda de algum bem material, perda de emprego, perda de uma oportunidade. Tudo o que fere o ego não é desejado pela consciência.

Dessa forma, exatamente por termos a certeza de que a morte é inevitável, preferimos não dedicar muito tempo de nossa consciência à isso, e nos tornamos alheios ao fato de que nossa própria morte está cada vez mais próxima. Existe a recusa em se deixar abalar pela morte cotidiana, assumindo como algo rotineiro a noticiação de diversos assassinatos em jornais e televisão.

A realidade se abate de nós de forma dura quando alguém que conhecemos falece. É um conflito entre o real e o sensitivo que se desenrola dentro de nossa consciência:
  1. A tentativa de negação do fato, ou seja, a tentativa de permanecer no estado de inconsciência da morte; 
  2. A raiva pelo acontecido, uma das formas pela qual a frustração pela inevitabilidade e a dor da perda se manifestam;
  3. A negociação do futuro, onde o medo da morte ou da "danação eterna" se reflete em buscar modificações nas atividades da vida a fim de retardar ou evitar esses acontecimentos;
  4. A depressão, onde o enlutado percebe que nenhuma das fases anteriores lhe trouxe qualquer benefício, e se recolhe em si mesmo, muitas vezes questionando o sentido da própria vida;
  5. Finalmente há a aceitação, pois percebe-se a possibilidade de continuar a viver mesmo com a memória da perda e com a incerteza da vida.

E se a morte não existisse?

Como agiríamos conosco e com o mundo caso não houvesse possibilidade de morrer? 

Algumas possibilidades são bem óbvias. Exemplifico: teríamos muito mais pessoas andando sobre a Terra atualmente, o que sobrecarregaria o planeta ao ponto da extinção de toda espécie, exceto a nossa, que viveria em eterno martírio num mundo desolado. Supostamente, a violência seria maior. As pessoas, por não sentirem medo da morte, teriam uma tendência maior a cometer assaltos e assassinatos ou reagir à assaltos. A irresponsabilidade com o próprio corpo seria maior do que a atual, e os casos de obesidade mórbida seriam cada vez mais frequentes.
O lado bom é que teríamos Aristóteles, Newton, Einstein e diversos outros cientistas trabalhando até os dias de hoje. Teoricamente, por conta disso, nossa tecnologia seria mais avançada.

Mas a pior parte seria o cansaço que a vida causa. Aos poucos, todo significado iria se perder, todo desejo iria morrer, toda intenção seria suplantada pela apatia. Não haveria significado para luta, esforço ou vitória, pois não haveria o oposto disso. Nesse universo, se a única opção para encarar a morte fosse o suicídio, as taxas de auto-aniquilamento seriam tão altas quanto as atuais taxas de morte por quaisquer razões.

Também seríamos pessoas eternamente endividadas, afinal, teríamos a eternidade para pagar os empréstimos.

O fim pode ser benéfico?

Analisando as possibilidades de uma vida eterna, é possível considerar que o fim da vida é benéfico de alguma forma?

Sim, é possível. A nossa vida, apesar de tão curta, ainda é longa demais. Ao final dos nossos dias, já estamos exaustos. Nossa mente e corpo já não são os mesmos, e tudo nos exaure. Nesse ponto, o fim não significa nada menos do que o repouso, o descanso.

"Afinal, para a mente bem estruturada, a morte é apenas a grande aventura seguinte." - DUMBLEDORE, Albus Percival Wulfric Brian.

Meu processo terapêutico

Às vezes eu ainda me sinto tão triste, perdida e confusa quanto antes.
Estou me sentindo assim agora... Cansada sem ter feito nada... Acho que "nada" pode ser um pouco de exagero, e ao mesmo tempo acho que não é. Depende do referencial. Exausta mentalmente de tentar e falhar, desanimada de seguir qualquer caminho, com vontade de sair dessa casa para um lugar onde eu possa estar em silêncio.

Ainda não sei por que faço o que faço. Ainda não sei corrigir isso. Todos os dias eu perco uma batalha diferente contra minha mente. Todos os dias a procrastinação ganha de mim. Isso me deixa exausta. Eu queria lutar contra ela, mas às vezes nada funciona. Às vezes penso que eu quero que ela ganhe de mim. Às vezes penso que não me importo se a procrastinação continuar ganhando.

Mas eu continuo tentando. Estou aqui, escrevendo isso, por que estou tentando.

Ainda me preocupo muito com dinheiro. Isso é errado? Penso nisso o tempo todo, as pessoas que me devem, as pessoas que eu devo, como vou pagar tudo que minha mãe gastou comigo, minha dívida com cartão que só aumenta, o emprego que nunca chega, as coisas que eu compraria se tivesse um emprego, o óculos que preciso trocar há três anos. Isso não mudou.

E isso me tira o foco. Penso em cuidar melhor da minha alimentação, beber mais água, fazer a caminhada todos os dias, como eu deveria. Penso em vender minhas roupas Lolita, mandar currículos, chego até a orar para um Deus que eu não acredito e nem confio para me ajudar. Penso tudo isso e não consigo me focar em fazer o que mais importa. O que realmente importa, disso tudo? Penso quanto tempo mais eu vou aguentar enquanto faço tudo errado.

Não sei se vi alguma melhora no meu comportamento desde que iniciei a terapia. Não tenho mais pensamentos suicidas, não me odeio mais, mas todos comportamentos que odeio amar fazer ainda estão aqui.

A maior diferença que senti ao iniciar a terapia é que agora eu estou ciente da minha procrastinação 100% do tempo. Cada episódio de desenho que eu clico para assistir, eu olho a hora e sei que deveria estar fazendo outra coisa. Cada texto do Medium que eu leio, eu penso em como deveria estar aplicando as técnicas que aprendi para não procrastinar. Cada vez que sento no sofá para mexer no Facebook, eu sei, eu sinto, que existem diversas outras coisas me chamando, diversas outras atividades a serem cumpridas.

Hoje foi um dos poucos dias que eu consegui lutar um pouco mais. Estou escrevendo. Tirei foto da minha saia pra vender. Contatei as pessoas que me devem. Estou fazendo bolo. Lavei roupa. Ainda não assisti o desenho. Ainda. Por que minha mente já me diz que eu vou falhar e eu vou procrastinar mais. Não importa o que eu faça, minha caixa de sugestões chamada mente me sabota, me diz que foi fácil, que não foi um conquista. Eu deveria ser mais gentil comigo mesma? Acho que eu deveria ser mais rígida. Deveria me cobrar mais.

Eu sei que devo continuar a terapia, pois eu sei que é algo importante e que pode me ajudar em qualquer situação... Mas às vezes parece que não está resolvendo nada. É claro, isso é totalmente minha culpa. Mas frequentemente eu me vejo de volta no mesmo buraco de indecisão e de culpa, novamente naquele círculo vicioso e doentio de inconstância, eu continuo tentando mas parece que só o que faço é me revolver nas cinzas. Deveria ser assim? É mesmo minha culpa?

Eu não sei criticar as pessoas, pois acredito que todas elas fazem o seu melhor, dentro de suas capacidades. Mas às vezes não vejo melhora em mim... E me critico. Pois sinto que não faço meu melhor. Sinto que nunca faço o tanto quanto poderia fazer. Isso me faz procurar textos motivacionais, e textos motivacionais me dão raiva pois não são nada práticos e não dá pra aplicar na vida real. Às vezes penso que deveria incluir mais restrições na minha rotina, talvez acordar mais cedo? Mas aí penso que eu deveria confiar no meu psicólogo, e fazer o que ele me pede e nada mais. Deveria mesmo? Talvez eu devesse correr de manhã, mas o hábito de acordar e já pegar o celular não me deixa raciocinar sobre o que eu deveria fazer. Eu não funciono bem de manhã. Talvez eu devesse ler O Poder de Hábito de novo, e dessa vez prestar menos atenção nas historinhas e mais atenção em como isso pode mudar minha vida.

Eu sei que eu devo continuar, sei que estou um pouco melhor que antes na procrastinação (muito pouco), mas ainda me sinto tão perdida... Tenho alguns planos, mas a vida me dá medo... É horrível não ter certeza de nada, é horrível saber que tudo que planejo hoje pode dar terrivelmente errado e me guiar para um caminho que eu não goste, mais uma vez... E falar sobre medo me faz lembrar de meus textos de anos atrás, onde essa palavrinha maldita aparecia em tudo que eu escrevia. Isso me faz pensar que talvez eu esteja retrocedendo e não avançando. Quando é que meus medos voltaram à vida?

Às vezes eu ainda me sinto tão apavorada quanto antes.

Não sei se esse texto fez algum sentido ou se atingiu aos objetivos esperados. Não sei se o título corresponde ao conteúdo. Mas eu acho que escrevi coisas importantes aqui, então vou deixar assim. Espero que um dia, no futuro, dar umas boas risadas desse texto.

Fantasias sexuais - o mundo BDSM

Eu sabia que eu iria procrastinar para escrever esse texto. 

Sinceramente, eu nunca antes parei para pensar realmente em tudo que engloba essa sigla, em todo o universo de coisas bizarras e medonhas que pode haver por trás disso. Tudo que eu conhecia desse universo eram algemas e chicotes, e não sei se tenho interesse de ir muito além disso, pois já não gosto de algemas e chicotes. Não consigo sentir prazer se no meio disso existir alguma dor ou incômodo, e imaginar que eu estou causando dor ou incômodo em alguém também não me permite sentir prazer.
É impossível não pensar, mesmo olhando de relance, o que eu sentiria se eu estivesse no lugar de uma pessoa em uma situação de dor, humilhação, desconforto ou qualquer coisa que os praticantes de BDSM acham prazeroso. E, ao imaginar o que eu sentiria, eu perco qualquer tesão ou prazer que poderia estar sentindo, pois não acho prazeroso sentir dor.

Exceto por alguns tapas, por que tapa não dói.

Consigo ter empatia suficiente para entender por que as pessoas gostariam de dominar ou de ser dominadas, mas não consigo sentir a mesma coisa. Talvez por que eu não acredite que relações românticas envolvendo poder sejam saudáveis e/ou duradouras, então trazer poder para o lado sexual, que para mim é a consumação do amor, não parece saudável. Para mim, o sexo deve ser sempre uma relação onde os dois tem poder, então comigo não funciona esse negócio de submissão. Ser vendada? Não lido bem com suspense e ansiedade. Vendar alguém? Talvez eu tenha empatia demais, e não consiga ver alguém vendado sem imaginar como eu me sentiria. Ser amordaçada? Já mal conseguia ficar com a boca aberta no dentista, imagina com uma bola de metal na boca? Meus maxilares merecem liberdade de expressão.
E odeio sentir dor. Sei disso pois já permiti que eu fosse amarrada na cama uma vez, mas não é uma experiência que eu gostaria de repetir. Meus pulsos doem, meus ombros tensionam, meus braços se cansam, e misturar isso com prazer é terrivelmente indigesto. Se isso já foi desagradável, imagina o resto? Não quero imaginar. Novas formas de sentir dor? Tratar a pessoa amada como um pet? Não me traz nenhuma ideia de prazer.

É óbvio que ainda utilizamos de práticas de BDSM no nosso dia a dia, mesmo que sejam mais suaves. Tapas, mordidas, arranhões, coisas do tipo. Mas, pelo menos para mim, isso não causa dor ou desconforto. Agora, um peso nos mamilos? Argh. Ser suspensa pelas mãos? Só de ver uma pessoa passando por isso me faz imaginar dor. Por que eu iria querer passar por isso ou ver alguém passando por isso?

Novamente, não suporto sentir dor ou desconforto de qualquer tipo. Isso me faz pular fora, quase que literalmente.

Por mais que eu pense sobre o assunto, por mais que eu considere, por mais que eu tente imaginar como eu realmente me sentiria... O mundo BDSM não é para mim. 

Eu e ela, a querida procrastinação

"Querida" é meu ovo.

A procrastinação é um problema tão complexo para mim, que pela segunda vez eu estou procrastinando enquanto deveria estar escrevendo esse texto. Mas, a verdade é que eu enrolei pois não tinha ideia nenhuma sobre o que escrever, e as poucas ideias que eu tinha não me soavam boas. Nesses casos eu costumo dar um tempo e esperar que algo na minha vida aconteça, a ponto de me dar um estalo sobre o que escrever. Isso não aconteceu, então eu estou aqui tentando fazer um brainstorm pois meu prazo é curto. Curto, mas não terrivelmente curto e assustador. Só curto.

Ao tentar resolver a procrastinação na minha vida, eu me deparei com muitos textos diferentes sobre isso e muitas táticas a serem usadas. Nem tudo funcionou. Algumas coisas funcionaram... por um tempo. Na maioria das vezes, a minha mente luta contra essas táticas de uma forma que mal compreendo, a ponto de não me permitir lembrar que existe uma coisa chamada pomodoro. Quando a minha mente realmente não quer fazer uma tarefa, ela usa de todo tipo de arma contra mim, e a arma preferida é o esquecimento. É uma luta diária, e a minha preguiça e a minha inconstância atrapalham ainda mais.

Posso decidir hoje que quero muito aprender a tocar violão, e começar a aprender sozinha um pouco dos acordes. Amanhã eu já quero ser designer, então largo o violão e tento aprender um pouco sobre esse mundo. No outro dia, eu me culpo por perder tempo com isso quando deveria estar procurando um emprego. Isso pode parecer procrastinação para alguém que observa minha vida de fora, mas nem sempre é. 

Para os casos onde eu conscientemente procrastino, ou seja, quando minha mente já perdeu no fator esquecimento da tarefa, ela se esforça para substituir essa tarefa por qualquer outra coisa que pareça mais urgente. Por exemplo: eu deveria escrever esse texto, mas meu quarto precisa ser arrumado antes. Eu preciso mandar currículos, mas eu deveria vender essas roupas de Lolita primeiro. Eu deveria lavar roupa, mas deixa eu inventar algo aqui que parece ser mais urgente do que isso.

É realmente inacreditável o fato de eu procrastinar pra lavar roupa. Isso não dá trabalho nenhum. 
Mas será que eu realmente procrastino ou eu só não quero ouvir meu pai reclamar sobre o fato das roupas estarem penduradas no local de trabalho dele?

Na odisseia da procrastinação, um texto um específico me chamou muito a atenção: Por que procrastinadores procrastinam, do Tim Urban, traduzido para português pelo Ano Zero. Toda a construção que ele faz sobre a procrastinação, usando de elementos metafóricos e desenhos para exemplificar como um cérebro procrastinador funciona, é fantástica. Ler sobre isso me ajudou a entender muito mais sobre mim, mas eu já li esse texto há anos e eu ainda não soube resolver o meu problema. 

Acho que é porque não existe caminho fácil para fora daqui. Como ele mesmo diz, todos os dias devemos recomeçar até estarmos um pouco melhores do que éramos antes.

O que mais me chamou a atenção nesse texto foi a ideia do "Monstro do Pânico", que acorda quando um prazo está terrivelmente próximo, colocando em risco algum aspecto da vida social, se não for cumprido. O Monstro do Pânico permite que uma pessoa procrastinadora, que enrolou a respeito de um trabalho durante duas semanas, termine-o em poucas horas. E, é claro, será um trabalho extremamente malfeito.

Isso me fez descobrir que eu não reajo ao Monstro do Pânico. Prazos curtos demais me paralisam, me fazem agir de forma contrária. Meu cérebro pensa: para quê vou ficar a noite toda fazendo isso? Para quê vou me estressar com isso? No final, o trabalho vai ficar tão ruim que é melhor nem entregar e poupar esse corpo de estresse e falta de sono.

Nenhuma das duas atitudes faz bem para minha autoconfiança, nem fazer um trabalho terrível em poucas horas, nem deixar de fazê-lo pelo prazo curto. As duas atitudes são destrutivas e significam derrota. E meu cérebro está tão acostumado a ser derrotado todos os dias pela procrastinação, pela gratificação instantânea, que é difícil lutar. Neste exato momento estou lutando contra a vontade de continuar a leitura do livro que interrompi ontem. 

E então, eu destrincho sobre a procrastinação novamente, tentando entender como esse cérebro perturbado funciona, escrevendo tudo que eu penso nesse blog para tentar solucionar esse problema. E ainda não sei uma resposta.

No momento, o que está funcionando para mim é uma planilha de horários impressa. Nela eu seleciono horários para procrastinar (e fico ansiosa para que esses horários cheguem logo) e horários para fazer outras coisas. Minha mente ainda me trapaceia, me fazendo confundir os horários e esquecer o que eu deveria fazer, mesmo que eu tenha acabado de olhar. Mas, até hoje, foi a ferramenta que deu certo por mais tempo. Já tem uma semana que eu estou um pouco melhor do antes, e pretendia ser melhor ainda essa semana... Mas acho que falhei mais do que acertei desta vez. Em retrospectiva, percebo que usei a desculpa do "isso é mais importante do que aquilo" para procrastinar um pouco mais. E, novamente, minha autoconfiança é golpeada, e minha razão é derrotada mais uma vez.

Minha única opção é continuar tentando, continuar tropeçando nesse caminho.

O reflexo do futuro no agora

O que eu quero para meu futuro deve refletir nas minhas ações hoje. Espera aí! Por que eu utilizei “deve refletir” ao invés de simplesmente “reflete”? Pois nem sempre é simples determinar exatamente o que se quer no futuro, então as ações do presente podem ser confusas. Não saber para onde se vai é a maneira mais certa de andar em círculos.

Logo, a questão mais importante para escrever sobre “o reflexo do futuro no agora” é exatamente decidir o meu futuro. Ou, pelo menos, decidir qual objetivo seguirei, pois a vida é traiçoeira e injusta e todos os meus planos podem desmoronar a qualquer momento. É pela pequena possibilidade de meus objetivos se concretizarem que farei meus planos.

Ou, talvez, pela possibilidade não tão pequena assim.

Iniciarei pelo mais simples, em minha opinião. Traçarei os caminhos que não quero seguir.

Não tenho nenhum interesse em voltar à faculdade de Jornalismo. Agora percebo que meu único objetivo ao iniciar esse curso foi fugir da Engenharia Química, que me aterrorizava por exigir de mim mais disciplina com os estudos do que eu efetivamente tinha. Mal sabia eu que a UFMG me exigiria o dobro. Por esse motivo, não tomei nenhuma atitude para voltar ao Jornalismo.

Não pretendo voltar a trabalhar com Vendas. Sei que futuramente precisarei vender minha imagem, precisarei vender ideias, vender propostas, empresas, serviços... Mas tudo isso será apenas uma pequena parte de uma grande ideia. Não quero que minha renda dependa exclusivamente da venda direta de produtos. Não mais. Precisei me endividar para entender que isso não faz parte da minha gama de habilidades, e nada que eu fiz, nenhum truque, nenhuma estratégia, pôde me forçar a trabalhar com isso.

De todas as coisas que eu não quero em minha vida, existe uma coisa em especial. Uma coisa que me atingiu com a força de uma bomba atômica na última quarta, e que me fez reescrever esse texto do zero. Algo que eu já sabia sobre mim, mas que havia me esquecido. Algo pelo qual já passei, mas que lutei contra, pois não suportava.
Desde criança, eu sempre soube de duas coisas.
Uma: Existindo a possibilidade de fazer faculdade de graça, eu não pagarei.
Duas: Jamais, em tempo algum, precisarei depender do dinheiro de alguém para sobreviver.
Foi esta última que me moveu em direção ao meu primeiro emprego, mesmo sendo completamente fora da ideia de futuro que eu tinha para mim.
Mas, ontem, eu precisei da ajuda de meu pai. Pois eu não tinha dois reais para completar o dinheiro da passagem.
Ah, Deus, isso doeu.
E como doeu.
E o que dói mais é que eu sei que foi minha escolha estar onde estou.

Eu estou tentando. Juro que estou tentando. Todos os dias eu tento, cada dia com uma intensidade diferente. Eu tento ter disciplina. Eu tento não procrastinar. Eu tento procurar um emprego. Mas, às vezes, isso dói tanto!
Dói tanto que às vezes penso que tudo que poderia querer para meu futuro é simplesmente ter forças para não desistir da vida. E que isso já seria uma vitória.
Mas os meus problemas não vão se resolver automaticamente com minha morte. Se, por acaso, isso resolvesse algo, talvez eu já tivesse tentando.

Mas, agora, o que eu quero?

Eu tenho um sonho, e dói imaginar o quão longe esse sonho está de ser realizado. Na verdade, são dois sonhos, mas um arde mais em meu peito do que o outro. Por que escrever livros não é exatamente um sonho, mas um objetivo que eu sei que um dia realizarei.
Agora, aprender a cantar... Isso está tão distante de mim que mais parece um devaneio. E, diferentemente de escrever, isso não é uma coisa que eu possa aprender sozinha. Para aprender a cantar, preciso de alguém para me ensinar, ou jamais saberei se estou fazendo certo ou se estou simplesmente destruindo minha voz. Eu ouço esses cantores com essas vozes maravilhosas e eu desejo que um dia minha voz consiga se mover por esses tons sem falhar. E eu não sei o que fazer a respeito disso, pois minha cabeça se confunde com vários outros objetivos... Mas esses outros objetivos são hobbies, não sonhos. Às vezes me esqueço disso.

Sabe o que realmente quero? Achar alguma forma de ter dinheiro investido o suficiente para que eu possa sobreviver só com seus lucros, ou trabalhando poucas horas por semana. E, dessa forma, ter tempo livre e dinheiro para perseguir cada um desses sonhos, cada um desses hobbies, e até mesmo experimentar aprender coisas que jamais imaginei. Ter tempo livre para escrever cada um dos meus livros, sem me preocupar com contas no fim do mês. Poder pagar aulas particulares de canto, piano, balé, violino, desenho, até mesmo teatro, se um dia eu quiser. Poder passar o resto dos meus dias aprendendo um pouco sobre tudo.

Mas nada disso se realizará enquanto eu não alcançar a disciplina exigida.


E a disciplina está sendo algo difícil de ser alcançado. Eu falho todos os dias... Em alguns eu falho menos, em outros, falho mais. É difícil me manter constante, é difícil me manter focada. Alguns truques vem me ajudando, mas eu costumo ignorá-los. Logo, creio que meu objetivo primário deve ser me fortalecer para manter uma disciplina, e então terei a força para trabalhar nos outros sonhos. 

Mas qual sonho seguir primeiro? Ainda estou perdida.

O amor e suas implicações

Ah, o amor...
Objeto de tantas divagações, devaneios e estudos. Deduções simplistas ou compostas, explicações poéticas ou matemáticas, o amor sempre foi alvo de estudos por toda sorte de pessoas.
Luiz Vaz de Camões já dizia: o amor é fogo que arde sem se ver. Para mim, isso soa como algo que queima dentro de você antes mesmo que você perceba, algo que os filmes de comédia romântica exploraram até a exaustão: os dois pombinhos apaixonados negando o que sentem um pelo outro.
Mas, obviamente, uma descrição como essa passa longe de englobar todos os tipos de amor. Para exemplos mais realistas, eu prefiro a Teoria Triangular do Amor.
A Teoria Triangular do Amor fala sobre como a Paixão, a Intimidade e o Compromisso se relacionam numa base triangular, criando diferentes tipos de amor a partir da combinação entre esses elementos. Essa teoria é interessante pois consegue abranger, de forma simples, uma grande parcela dos tipos de amor existentes no mundo.



A junção desses três elementos constrói o amor pleno, o amor realizado, o amor completo. E o que me chama a atenção nessa teoria é como o Compromisso exerce um papel fundamental na manutenção desse amor pleno. Quando iniciamos nossas aventuras pelo extenso campo do amor, pensamos que a Paixão é suficiente para que todos os obstáculos se superem. Pensamos que esse sentimento um pelo outro já basta, e então tudo será adicionado automaticamente. E ler apenas um pouco sobre a Teoria Triangular do Amor já permite o entendimento de que o amor pleno implica, acima de tudo, no compromisso de manter essa relação.
É necessário esforço para conquistar Intimidade um com o outro. Mas, uma vez que essa intimidade nasce, ela é mantida e aumentada sem muitos problemas.
É necessário esforço para manter a Paixão inicial em todos os dias do relacionamento. Mas, existindo o Compromisso um com o outro, esse esforço começa a se tornar algo divertido, algo natural.
Na minha opinião, a parte mais difícil na conquista do amor pleno é manter o Compromisso. Não é algo que você adquire uma vez e que se mantém automaticamente. Não é algo simples, que possa ser resolvido comprando alguma coisa. O Compromisso é uma atitude diária de se importar com o outro, de ter responsabilidade com a relação, e de analisar cada situação difícil sob a ótica apropriada. Às vezes será necessário que uma mesma situação seja tratada de forma diferente e, nesse caso, é a Intimidade que revelará qual a melhor ação, e é o Compromisso que te fará executá-la.
Identificar que algo precisa ser feito, e até mesmo o que exatamente precisa ser feito, não é a parte mais complicada.
O complicado mesmo é ter o Compromisso de fazer o que precisa ser feito todos os dias.

Por isso, para mim, nada é mais correto do que dizer que o Amor Pleno implica essencialmente em Compromisso. Sem ele, nenhuma relação é duradoura, nenhuma relação se mantém.